quarta-feira, 15 de junho de 2011

Um panorama da mídia alternativa



Por Karina Janz Woitowicz

Coordenadora do GT de História da Mídia Alternativa

Resgatar a trajetória de veículos de comunicação alternativos e construir a memória de produtos midiáticos, personagens e temas relacionados à mídia contra-hegemônica, popular, comunitária e/ou independente. Este é o objetivo assumido por pesquisadores que integram o grupo de trabalho de História da Mídia Alternativa, que completou três anos de existência no V Congresso Nacional de História da Mídia, realizado em São Paulo entre os dias 30 de maio e 2 de junho de 2007.Fizeram parte deste grupo, na última edição do evento, 11 trabalhos de autores de diversas regiões do Brasil: três de São Paulo, três do Paraná, dois do Rio de Janeiro, um do Rio Grande do Sul, um do Piauí e um da Bahia.

Entre os temas abordados, pode-se dizer que a maior parte dos trabalhos busca recuperar a trajetória de veículos voltados a uma lógica de resistência, apresentando uma alternativa às formas tradicionais de produção, circulação e consumo da informação. Assim, histórias de jornais que circularam no período da ditadura militar brasileira, como o carioca O Berro (registrado por Nilo Sérgio Gomes, mestre pela UNIRIO, que atuou no referido jornal) e o Informação do Rio Grande do Sul (trabalhado por Eloísa da Cunha Klein, mestranda da UNISINOS), assim como veículos contra-hegemônicos como o Brasil Agora (estudado por Rozinaldo Antonio Miani, professor Dr. da UEL), foram recuperadas pelos pesquisadores, contribuindo para o registro destas experiências na história da mídia.

Também foram resgatadas experiências com rádios comunitárias, compreendendo as primeiras rádios do Sertão Central do Piauí (analisadas por Orlando Maurício de Carvalho Berti, mestrando da UMESP e professor da URSA/UESPI) e a construção da Rádio Comunitária Nova Geração de Jataizinho/PR (estudada por Eduardo Yuji Yamamoto, mestrando da UNESP).

Os trabalhos também consideraram o mapeamento e a trajetória de veículos de determinados grupos sociais, como a imprensa de imigrantes em São Paulo (investigada na dissertação de Camila Escudero, mestranda da UMESP e professora da UNIFAI), a imprensa homossexual (em resgate histórico realizado por Marcus Antônio Assis Lima, professor Dr. da UESB) e a imprensa feminista (em recorte temático feito por Karina Janz Woitowicz, professora da UEPG).

Os demais trabalhos contribuíram para reflexões teórico-conceituais sobre a mídia alternativa e sua história, levantando características e impasses para uma definição, seja tensionando o caráter anti-empresarial e anti-capitalista da mídia alternativa (conforme destacado pela professora Dra. Maria Lúcia Becker, da UEPG), problematizando diferentes modelos de contra-informação (como discute Henrique Moreira Mazetti, mestrando da UFRJ), ou ainda observando a presença e/ou apagamento desta mídia na história (como faz Célia Regina Amorim, doutoranda da PUC-SP).

Na avaliação do grupo, destacou-se a contribuição dos trabalhos apresentados diante da necessidade e da pertinência de registrar diferentes aspectos em torno da história da mídia alternativa, considerando a sua importância e presença em diferentes momentos históricos e, ao mesmo tempo, o silenciamento da história desta mídia nos registros oficiais.

Também se considerou que as pesquisas trabalham com perspectivas teóricas e metodológicas que se aproximam e dialogam, tanto no que diz respeito ao conceito de mídia alternativa, problematizado nos trabalhos, quanto no modo de valorizar traços que caracterizam estas formas de comunicação. Assim, pode-se dizer que, ao longo de sua atuação, o grupo foi criando uma identidade e estabelecendo um espaço singular de discussão, capaz de motivar e fortalecer o desenvolvimento de estudos com base em um referencial que tem como foco a mídia alternativa.


Fonte: Jornal da Rede Alcar

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