quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Cola online e ética no conhecimento

A cópia de trabalhos acadêmicos não é novidade da tecnologia. Antes do computador, o aluno desonesto copiava ou comprava trabalhos datilografados. Chamadas do seguinte tipo são conhecidas no mundo acadêmico: “Se você não tem tempo, anda estressado, cansado e sobrecarregado de trabalhos, nós temos a solução”.

O que está em jogo é a formação dos alunos nos ensinos Fundamental e Médio e a seriedade do Ensino Superior. É grande a quantidade de alunos que vêm até a universidade semi-alfabetizados, com baixo rendimento escolar e com incapacidade para escrever e ler – apesar das boas notas. Lembro-me, recentemente, de uma aluna de primeiro semestre da faculdade enaltecendo sua capacidade de ler o primeiro livro.

A escola de ensinos Médio e Fundamental produz uma gama enorme de pessoas despreparadas. A universidade, por sua vez, pouco interessada no processo de construção de conhecimento, reproduz o mesmo modelo. Há uma espécie de cumplicidade e promoção da ignorância.

Alguns professores mais radicais afirmam que a Internet se tornou um convite à desonestidade. O problema não está na Internet, o problema está no professor e no aluno, nas relações e no conhecimento desenvolvido e produzido em aula. É preciso estabelecer contratos e comprometimento do fazer pedagógico. É preciso acabar com o professor fazendo de conta que ensina e o aluno fazendo de conta que aprende. O conhecimento, por definição, envolve compromisso, responsabilidade e ética.

Não tenho preocupação com a cola do internauta. Tenho preocupação com a pessoa do aluno, seu conhecimento e sua posição ante a vida. O que vai diferenciar um aluno de outro, diz Michel Serres, é a sua capacidade de crítica, sua postura acadêmica, sua responsabilidade com o conhecimento. Quanto aos sites online, é um problema de legislação.

O conhecimento deve ser personalizado, apropriado pelo aluno, deve ter o rosto e a inteligência do aluno. Nenhum site é capaz de fazer isso sem a construção dialógica de um conteúdo partilhado por professor e aluno. A desonestidade da sociedade civil está na escola e na universidade. É preciso encontrar novas formas que suplantem esse modelo arcaico de formar cidadãos do mundo, para que eles estejam comprometidos com uma ética fundada na co-responsabilidade e no bem comum.
JORGE THUMS
* Doutor em Educação pela Pontifícia Universidade de Salamanca (Espanha) e professor de ética do departamento de Filosofia da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra).

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