terça-feira, 19 de outubro de 2010

Os cuidados com o marketing infantil

Observações, cuidados e reflexões sobre a propaganda dirigida para a criança.


Por Fábio Mesquita Torres

Outubro chegou, e com ele a ansiedade de uma das datas mais festivas e de muita alegria para a criançada. Para quem não sabe, o dia 12 de outubro ficou conhecido como Dia das Crianças no Brasil na década de 20 quando um deputado federal, chamado Galdino do Vale Filho, redigiu o decreto n° 4.867, oficializado em 1924 pelo então Presidente da República, Arthur Bernardes.

A data ganhou força a partir dos anos 60 com uma promoção idealizada pela fábrica de brinquedos Estrela e pela Johnson & Johnson. Década oportuna, pois a chegada da Televisão no Brasil data de 03 de abril de 1950. Ou seja, o Dia das Crianças ganhou forma, força e vida através de estratégias do marketing infantil, que não ficaram limitadas a campanhas de brinquedos ou a produtos desse universo. Hoje, há vários estudos e preocupações com relação à influência da criança nas decisões de compra dos adultos, por isso todos os mecanismos de informação e neutralidade de tais argumentos comerciais deverão ser observados pelos pais.

A primeira preocupação com essa idéia da influência não está diretamente relacionada à aquisição de produtos domésticos ou de bens duráveis tangíveis para toda a família, como carro, geladeira, televisor, aos quais as crianças poderão ou não dar algum tipo de sugestão ou conhecimento de produtos e diferenciais tecnológicos, mas, sim, à questão da formação consumista que, indiretamente, os pais poderão causar nos filhos, sem estarem antenados para tal fato.

Uma pesquisa realizada pelo Datafolha, a qual entrevistou 411 pessoas, na cidade de São Paulo, nos dias 22 e 23 de janeiro desse ano, publicada no site do Instituto Alana (www.alana.org.br), revela-nos que sete em cada dez dos pais entrevistados afirmaram serem influenciados pelos filhos na hora de fazerem alguma compra. E para esses pais, os maiores influenciadores dos pedidos dos filhos, entre sete itens apresentados, são as propagandas, com 38%, em segundo lugar os personagens de TV ou filmes, com 18%, e em terceiro lugar programas de TV, com 16%.

A pesquisa também apresenta algumas preocupações por parte dos pais em relação ao conteúdo apresentado nos programas se comparado ao das propagandas. 58% dos pais estão mais preocupados com a programação da televisão, em contra partida, 42% se preocupam com os conteúdos argumentativos veiculados no horário do intervalo.

O grande problema da exposição excessiva da criança à televisão é que mais da metade dos programas televisivos, com exceção dos telejornais, trazem como argumentos de entretenimento cenas de violência, agressões e trocas de temperamentos desequilibrados, que expressam glamour desapropriado e banalizam os atos de desrespeito humano. Muitas vezes, essas cenas são construídas com um humor que maqueia ainda mais as conseqüências do uso da violência como forma de expressão.

Contudo, vamos nos preocupar com o marketing infantil, que é uma arma de formação do comportamento consumista do indivíduo.

Em 2006, o Ibope publicou um levantamento de investimento em mídia na Categoria Produtos Infantis da ordem de R$ 209.700.000,00 (IBOPE Monitor, 2005x2006, categorias infantis), ou seja, há uma grande preocupação e disponibilidade financeira para a formação dos novos consumidores.

Com isso, podemos observar que a infância nos nossos dias está cada vez mais precoce ao consumo, pois o indivíduo já nasce dentro de uma lógica imposta pela necessidade de consumir.

Outro fator interessante é que é de 4 horas e 51 minutos o tempo médio diário que uma criança brasileira passa na frente de um aparelho de Televisão (Painel Nacional de Televisores – IBOPE/2008 – crianças entre 04 e 11 anos, classes ABC) em comparação ao tempo médio diário na Escola, cuja permanência é em média de 3 horas e 15 minutos (FGV – Centro de Políticas Sociais – TEP – Tempo de Permanência na Escola/População Brasileira em 2006, http://www.fgv.br/ibrecps/rede/tpe//).

A mesma pesquisa realizada pelo Datafolha e publicada no site do Instituto Alana (www.alana.org.br) conclui que 57% dos filhos entre 03 e 11 anos acessam a internet, sendo um hábito mais freqüente entre as crianças de 08 a 11 anos de idade, cuja porcentagem chega a 76%. Os sites mais acessados pelas crianças são os jogos on-line (40%), os canais infantis (21%) e o Orkut, que chega a 16%. A pesquisa aponta que mais da metade dos pais entrevistados afirmaram a existência do uso de limitações ao uso da internet em casa e de uma espécie de peneira quanto ao tempo e aos conteúdos acessados.

Entretanto, a atenção desse texto volta-se, de fato, à preocupação quanto ao relacionamento das crianças com os meios e à formação de uma cultura consumista desequilibrada. Afinal, a publicidade não apresenta apenas produtos, serviços e os respectivos benefícios, mas esta é um grande mecanismo de formação de valores, onde para se ser o que se quer ser se faz necessário o ter.

As crianças são mais vulneráveis à influência da informação, por conta do seu estado de desenvolvimento crítico e intelectual, que poderá sofrer conseqüências graves, causadas pela má formação de sua concepção de consumo, como a obesidade infantil, erotização precoce, consumo precoce de álcool e cigarros, estresse familiar, banalização da agressividade e violência, distúrbios alimentares, substituição de brincadeiras criativas por games de violência e agressividade, o amadurecimento do egoísmo, a formação de uma conduta passiva e conformista, a ausência de valores culturais e democráticos, entre outras.

Um grande fator que leva esse avanço consumista ao mundo infantil é o aspecto da violência nas cidades, onde o espaço público da brincadeira e do entretenimento saiu das praças e logradouros e foi para os cinemas e para as praças de alimentação dos shoppings.

Então, vejo que o grande desafio para os pais da nossa e das futuras gerações é o resgate do tempo de brincar, o retorno das atividades que exercitam a criatividade e a liberdade de expressão da criança. Educar com foco nos valores altruístas, para os quais a comunidade e natureza ganham espaço cativo no universo lúdico infantil. Fomentar oficinas de leitura. Não permitir ações de merchandising dentro das escolas, desenvolver ações de esclarecimento quanto ao consumo de alimentos e bebidas. A implantação de debates sobre educação financeira e o uso correto do dinheiro, sem deixar de lado a plena busca por uma comunicação social mais responsável e educativa.

Fonte: www.administradores.com.br/informe-se/artigos/os-cuidados-com-o-marketing-infantil/48727/

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