sábado, 23 de outubro de 2010

Pegue, não pague

Novidade: lojas onde o consumidor pode pegar qualquer produto e sair sem pagar chegam ao Brasil e agitam o mercado de amostra grátis
Sammya Araújo


Do chocolate quente e as torradas do café da manhã, passando pelo frango assado do almoço, pelas bolachas com patê do lanche e pela a cervejinha da happy hour, até a sopa com macarrão do jantar: há lugares onde dá para conseguir todas as refeições e bebidas “na faixa”. Não, não é nenhum projeto assistencial do governo para deixar o povo feliz em ano eleitoral. Esses produtos estão nas prateleiras de lojas. A diferença é que, na hora de passar no caixa, ninguém mexe na carteira, porque tudo é de graça.

Se você nunca ouviu falar de coisa semelhante, vá se acostumando. Por enquanto, são dois endereços, ambos na Capital paulista, mas a fórmula importada do Exterior deu tão certo que ambas as marcas Sample Central e Clube da Amostra Grátis têm planos de expansão por franquias em breve. Baseadas no conceito de tryvertising, do inglês try (teste) e vertising (advertising, propaganda), as lojas são uma febre que agrega vantagens para o consumidor e para a indústria.

Funciona assim: o usuário preenche formulários e se inscreve no site. Paga de uma só vez a taxa anual (R$ 15 na Sample e R$ 50 na Amostra Grátis) e pronto, é começar a visitar e retirar alimentos, bebidas, guloseimas, sabonetes, cremes, xampus, sapatos, ração para animais, sabão em pó, desinfetante, batom, escova de dente... a lista do que pode ser levado é infinita.

Além disso, há eletroeletrônicos para conhecer e testar lá mesmo, como celulares, computadores, geladeiras e televisões. Fora as degustações de comidinhas. A maioria dos itens é lançamento e ainda não chegou ou acaba de chegar ao mercado. Mas há alguns cujos fabricantes desejam mudar a embalagem ou reposicionar a estratégia de comunicação, por exemplo.

Por isso mesmo, a contrapartida do usuário é apenas uma: responder aos questionários de avaliação após o consumo, no prazo de 15 dias. Na Amostra Grátis, o cadastro fica bloqueado e o associado, impossibilitado de fazer novas retiradas até que cumpra essa obrigação. Na Sample, há um estímulo adicional, um programa de pontuação que rende de produtos extras a prêmios como laptops, tevês LCD e smart phones aos mais assíduos.

Os fabricantes, por sua vez, pagam para colocar seus produtos nas gôndolas e não têm lucro algum com isso. Mesmo assim é um excelente negócio para eles, pela valiosa interação com o seu público-alvo. “A indústria compra a prateleira da loja e tem acesso à pesquisa”, afirma o gerente geral e sócio da Sample, João Pedro Borges Badue. Ele destaca alguns méritos do método sobre os tradicionais usados pelo mercado.

“Numa sala de pesquisa as pessoas, às vezes, avaliam produtos em condições que não são ideais. Para experimentar bem um salgadinho, por exemplo, o melhor é tomando cerveja com amigos e vendo futebol”, ilustra Badue. “É uma aproximação da indústria com os clientes. E nós personalizamos as pesquisas”, diz Luiz Gaeta, sócio da Clube da Amostra Grátis.

Segundo Badue, na Sample o valor médio da cesta a cada visita é de R$ 85. Esse total é a soma dos “preços” dos cinco produtos que o consumidor pode levar cada vez que for à loja – a maioria faz visitas quinzenais. “Mas já tivemos um cosmético de R$ 90”, afirma.

Na Amostra Grátis, em que é possível retirar cinco itens por mês, a média é R$ 25 a R$ 30, segundo Gaeta, mas há produtos de maior valor agregado. “O mais caro foi um adesivo decorativo de R$ 149. Já tivemos um calçado de R$ 49”, menciona.

Cremes, celulares e cerveja

A equipe da Metrópole foi à Sample Central para a realização desta matéria e conferiu o passo a passo do processo. Na primeira visita após o cadastramento, retira-se um cartão de associado com código de barras, que deve ser apresentado na entrada e ao passar pelo caixa com a cesta de produtos. Dentro da loja, moderna e bem organizada, os produtos estão separados por segmento.

No centro, ilhas com terminais de computador para o registro de pesquisas feitas lá mesmo, como a de uma marca de telefones celulares. No dia da visita, havia duas degustações, de sorvetes e de chocolate em pó light. A rotina é simples e em poucos minutos dá para visualizar tudo e começar a colocar os produtos na cesta.

A publicitária Gabriela Hesz, de 22 anos, em sua primeira vez na loja, focou os cosméticos e produtos de higiene pessoal – à disposição havia sabonete líquido, batom, máscara hidratante, óleo corporal, colônia masculina, cremes de tratamento capilar, esmaltes, tintura para cabelos.

A funcionária pública Vilma Maria Rodrigues Miranda, de 50 anos, levou dois itens dessa lista, mais meia dúzia de garrafas de cerveja preta, um bactericida para vaso sanitário e um tempero pronto. Veterana na loja, confirmou o que os fabricantes mais gostam de ouvir. “Já coloquei um produto de limpeza que conheci aqui nas compras do mês.”

“Já comprei uma lâmina de barbear de uma marca que me parecia de baixa qualidade. Jamais experimentaria se não tivesse levado daqui”, comentou, por sua vez, o bancário Rogério Depret. A auditora Gláucia Pereira, de 27 anos, curte a ideia de ter concretizados os seus desejos de consumo. “Respondo as pesquisas porque acho legal ver no mercado algum produto do qual fui ‘cobaia’”, diz.

Sobre as pesquisas, o publicitário Victor Stossel, de 26 anos, considerou a fórmula “mais espontânea e menos intrusiva”. A tradutora Regina Martinez, de 56 anos, foi mais efusiva. “Achei a ideia fantástica. Tenho a oportunidade de testar coisas que não teria a curiosidade ou poder aquisitivo para comprar. E conhecendo aqui algum produto mais caro, gostando, a gente passa a fazer um esforço para levar para casa todo mês.”

Existem regras

Há algumas diferenças no funcionamento das lojas. Na Amostra Grátis, não é preciso agendar a visita. A ideia, ressalta o sócio Luiz Gaeta, é que a loja funcione mesmo como um minimercado, para que a experiência seja a mais próxima do dia a dia das pessoas. “A demanda de mercado é mais eficiente quando usa modelo real”, defende.

Já para ir à Sample Central, só com hora marcada. A agenda é concorridíssima. “Esperávamos ter 20 mil usuários cadastrados em um ano, mas, com três meses de inauguração (em junho), temos 39 mil. A média de espera para agendar é de 40 dias”, conta João Badue. “Já há até mercado paralelo de senhas.” A cada 15 dias, a loja registra a entrega de 35 mil questionários.

A Amostra Grátis, inaugurada em maio, tem 16 mil associados. O sócio diz que a “peneira” da localização, em região com pouca oferta de transporte, e a taxa anual mais alta resultam num público 80% das classes A e B. “Mais importante do que a quantidade é a qualidade dos associados, para que possam ser críticos e contribuir de fato para o aprimoramento de produtos, serviços e hábitos de consumo”, afirma Gaeta.

Você gostou?

Clube da Amostra Grátis
www.clubeamostragratis.com.br
Rua Harmonia, 213,
Vila Madalena.

Sample Central
www.samplecentral.com.br
Rua Augusta, 2080,
Jardim Paulista.



FONTE: Revista Metrópole
AGÊNCIA: Mark Registrada

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